Dr Eduardo Adnet


Médico Psiquiatra e Nutrólogo

A Baixa auto-estima podendo camuflar Transtornos Psiquiátricos


Nós, médicos psiquiatras, não somos simplesmente indivíduos que possuem colação de grau em Medicina e titulação em Psiquiatria. Também não somos profissionais que se ocupam em tratar somente pessoas esquizofrênicas (também chamadas de loucas). Somos (e convém que sejamos) acurados observadores persistentes do comportamento humano. Particularmente, é para mim uma enorme satisfação tratar de portadores de Esquizofrenia (uma doença severa e que muito faz sofrer), e a satisfação se dá por conta da observação da melhora desses pacientes, o que para mim é algo muito, muito gratificante!

Não surpreendentemente, mas curiosamente, a cada dia que passa mais aumenta o número de pessoas que buscam a Psiquiatria em razão de sofrimentos no território afetivo (tristezas, frustrações, baixa auto-estima, desmotivação, irritabilidade, sentimentos de rejeição, percepções adoecidas (disfuncionais) de inferioridade, e em muitas situações, uma inquietante e dolorosa dúvida sobre simplesmente o porquê de existirem).

Diferenciam-se estas características das doenças psiquiátricas ditas como sendo propriamente somáticas (do Grego: soma; ou corporal; meramente físico; ou ainda: orgânico). As doenças mentais ditas orgânicas são aquelas que dizem respeito ao funcionamento (ou a um desempenho comprometido) cerebral propriamente dito. Um dos exemplos mais clássicos é o Retardo Mental, um grupo de doenças mentais diretamente relacionadas a problemas cerebrais funcionais e não diretamente afetivos em suas causas. Por exemplo, podemos citar pessoas com severas sequelas pós-acidente traumático cranioencefálico - TCE -  (bateu a cabeça no vidro do carro enquanto dirigia; caiu de uma certa altura e bateu forte a cabeça), sequelas de encefalites, tocotraumatismos (acidentes durante o parto e que podem evoluir com retardo mental), e isto sem falar na própria Esquizofrenia, uma doença cuja etiopatogenia (a causa da doença) é hoje, pelo menos em parte, atribuída ao desequilíbrio de um neurotransmissor chamado de Dopamina. Corrige-se o desequilíbrio com o uso dos chamados antipsicóticos e a melhora, muito frequentemente, é dramática.

Mas, e nas situações em que não estamos tratando de problemas propriamente físicos? Aqui entra em foco o objeto deste breve artigo: A baixa auto-estima.

Recentemente atendi uma jovem paciente, uma moça muito inteligente, simpática e seriamente interessada em sua melhora. Segundo suas próprias definições de si mesma, sentia-se um lixo, um fracasso, uma como que vergonha de si mesma. E mal sabia discernir seus sentimentos, embora nada, aparentemente, poderia parecer justificar sua terrível baixa auto-estima.

Pois bem, tivemos a oportunidade de avaliá-la e de tratá-la. E aqui publico este texto com vistas a que seu exemplo possa, quem sabe, servir de diretriz sobre o que não se deve fazer diante de ameaças ao comprometimento da auto-estima.

Era uma jovem de origem humilde (no sentido material), esforçada e que veio de outra cidade para estudar, trabalhar e buscar seu lugar ao sol. Veio de uma pequena cidade do interior de outro Estado. Seus esforços e dedicação não demoraram a render frutos e, em pouco tempo, esta moça já ocupava uma posição de destaque e de considerável responsabilidade em uma determinada empresa.

Alguns meses se passaram e sua dedicação ao trabalho, sua competência e seus conhecimentos técnicos já haviam se tornado notórios entre seus colegas de trabalho. E tudo parecia que continuaria indo bem, ... mas não foi assim. 

Bastou que surgisse em seu caminho um indivíduo hierarquicamente superior a ela na estrutura da empresa em que trabalhava, o qual vivia a menosprezá-la, a criticá-la sem motivos e, o pior, a humilhá-la diante de outros colegas de trabalho. Seu mundo simplesmente desabou. E o que podemos concluir disto?  

A leitura da imagem que tinha sobre si própria, infelizmente, não havia chegado a ser suficientemente consistente a fim de que ela pudesse rechaçar mesmo as mais frágeis das ameaças a uma pessoa com méritos inquestionáveis. Passou a se comparar com outras pessoas, o que não era seu costume fazer, e, progressivamente, foi perdendo os referenciais de valores que possuía, e isto com sérios comprometimentos sobre sua auto-estima.

Após breve tempo de tratamento, melhorou significativamente, mas eu notava que o soerguimento de sua auto-estima estava aquém do que eu esperava.

Infelizmente, o fator externo (ou exógeno) de seu tormento permanecia em atividade, a saber: seu chefe. E por mais que nos esforçássemos, tanto eu como ela, os persistentes ataques à sua auto-estima persistiam por parte de seu chefe. E isto tornou não somente a sua recuperação mais demorada, bem como meu trabalho bem mais difícil, pois a possibilidade da minha atuação sobre o principal agente exógeno e desencadeante de seus sintomas eram nulas. Eu não conhecia seu chefe e nada podia fazer no que dizia respeito a ele. 

 



O relato não termina aqui, mas não desejando me alongar, vou deixar aqui algumas sugestões para quem está lidando com problemas de baixa auto-estima.

- Comece seu dia com atitudes positivas. Nossa mente pode, de certo modo, ser comparada a um programa de computador. Programe-se para focar suas atenções em seus objetivos, sem deixar que sua mente seja paralisada por preocupações ou por medos. Seja o medo de pessoas ou de situações de potencial dificuldade. Muitos dos nossos medos e receios jamais chegam a acontecer, permanecem restritos aos territórios da imaginação e das preocupações. Você não tem como saber como será o seu dia, mas pode programar a sua mente para uma disposição positiva, e maiores serão as chances de poder melhor lidar com todos os obstáculos que surgirem durante o seu dia. Dê um reboot positivo em sua mente! Faça um upgrade de si mesmo!

- Seja uma pessoa grata, a amargura e a murmuração pertencem aos perpetuamente insatisfeitos e ingratos. Para os que reclamam de tudo, nem eles próprios se bastam. E tampouco você lhes bastará.

- Não se compare com outras pessoas! Quem lhe disse que você tem que ser como essa ou como aquela pessoa? Você deve ser você! E somente você pode ser você mesmo! Valorize suas perspectivas, capacidades e valores que possui e que pertencem a você somente.

- Cuide com muito carinho do ambiente à sua volta, principalmente em sua casa. Plantas, belas cores na decoração de sua casa, fotos da natureza, janelas abertas e bem ventiladas podem facilmente lhe fazer lembrar de que você está vivo (a) e que há vida, muita vida, à sua volta!

- Valorize seus sucessos e suas conquistas, por menores que sejam! Não espere ser perfeito (a), pois quem de nós é perfeito? Suas imperfeições não anulam as suas virtudes.

- Na medida do possível, evite pessoas negativas, pessimistas e lamuriosas. Estas pessoas podem conseguir nos contaminar com seu pessimismo que nem a Gripe ou a Conjuntivite.

- Se alguém não parece gostar de você (seja por inveja, por ciúmes ou por qualquer outro motivo), seu amor próprio deve ser de tal envergadura o suficiente para chegar a ter compaixão de pessoas assim, ao invés de se deixar influenciar por elas. Se alguém não deseja andar com você, então saiba, educada e cordialmente, dizer adeus! Que se vá então! Verdadeiros amigos e verdadeiras amigas não possuem este tipo de postura diante de quem realmente gostam e amam.

- Vista-se bem, perfume-se, mesmo que seus compromissos não exijam vestes especiais. Mas trate de você de maneira especial todos os dias, pois você é uma pessoa especial em todos os dias, os quais são sempre repletos de novidades e de novas oportunidades. Programe sua mente para observar isto.

- Esteja sempre pronto (a) a estudar e a aprender coisas novas. Aqueles (as) que já se julgam possuidores de uma ciência e de uma sabedoria tal a ponto de acharem que não precisam aprender mais nada frequentemente se tornam amargos e arrogantes. E a arrogância é sempre companheira da amargura. Os humildes de coração são pessoas sempre gratas e estão sempre dispostos a crescer e a aprender cada vez mais. E é por isso que crescem cada vez mais em conhecimentos e em sabedoria e se tornam bem sucedidos.

- Não fique esperando a aprovação dos outros a fim de se sentir aprovado (a). Reconheça os seus feitos, suas conquistas e seus valores, e agarre-os como a um troféu. Se fizer assim, em pouco tempo verá que você possui uma coleção de belos feitos em sua vida, tal como uma prateleira cheia de troféus.

E se nada disso lhe parecer suficiente a fim de que você ame a si mesmo (a), lembre-se das palavras d’Aquele que te criou:

“Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti”. DEUS, em Isaías 49:15
 

 

Dr Eduardo Adnet

Médico Psiquiatra e Nutrólogo