Os Rótulos dos Diagnósticos em Pacientes da Psiquiatria
Com uma frequência considerável, alguns pacientes chegam em
nosso consultório afirmando, algumas vezes com bastante ênfase,
que são portadores deste ou daquele transtorno psiquiátrico. E
dentre estes transtornos, os mais frequentemente anunciados são
o Transtorno Bipolar, a Síndrome do Pânico, o Transtorno do
Dédicit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a Depressão (ou
Depressões).
Como já comentei em outros artigos, há uma vulgarização de
determinados diagnósticos da Psiquiatria e uma miríade de
publicações de má qualidade onde muitos leitores “acham” que se
encaixam muito bem neste ou naquele transtorno e alguns chegam
até mesmo a enveredar pelo caminho do autodiagnóstico. Pelo
menos em nossa experiência profissional, esses autodiagnósticos
estão errados na grande maioria das vezes, lembrando aqui que
autodiagnóstico não é uma prática recomendável.
Não há nada de equivocado em se buscar obter informações sobre
um determinado transtorno psiquiátrico, ainda mais quando a
pessoa suspeita que esteja sendo por ele acometida (ou algum
familiar ou conhecido), todavia, há um delicadíssimo caminho a
ser percorrido antes que se possa chegar ao diagnóstico de
certeza e ao tratamento adequado, o que é da competência do
médico psiquiatra no que tange ao território de atuação da
Psiquiatria como especialidade médica.
Considero ainda mais preocupante o fato de algumas pessoas
aceitarem tão rapidamente algumas rotulações que lhes são dadas,
como se o indivíduo fosse a doença e nada mais importasse na
hora de se olhar no espelho e considerar que a pessoa é muito
mais do que um pé torto, uma cicatriz na face ou uma visível
lordose.
Penso que ninguém deva sair de um consultório de psiquiatria
como se estivesse com um boné com a inscrição “Eu sou Bipolar”,
“Eu tenho TOC”, ou como se estivesse vestindo uma camisa com o
estampado “Sofro da Síndrome do Pânico”.
Muitas são as boas qualidades que podemos possuir: Cordialidade,
honestidade, amor ao próximo, boa condução dos relacionamentos
familiares, bom desempenho profissional ou acadêmico,
criatividade, auxílio a outras pessoas, enfim, os critérios
próprios de auto-avaliação convêm sejam positivos e realistas,
especialmente quando se busca o aprimoramento da auto-estima.
Se alguém é portador de alguma doença psiquiátrica, seja um
transtorno leve ou mais severo, não é isto o que define o nosso
caráter, ainda mais se levarmos em conta que há diversos
transtornos em Psiquiatria que possuem importantes componentes
de hereditariedade, e não pode haver culpa por algo pelo qual
jamais optamos ou escolhemos ter. Várias doenças psiquiátricas
são herdadas, e como poderia alguém ser culpado por isso?
Teríamos que percorrer a História da humanidade e chegar até
Adão e Eva a fim de culpá-los por todas as doenças que são
herdadas pelas vias da hereditariedade.
A rotulação de pacientes em razão de sua doença, seja na
Psiquiatria ou em outras especialidades médicas, não melhorará
em nada a sua condição, pelo contrário, poderá trazer prejuízos
até mesmo sérios à sua auto-estima e visão própria de sua
inserção e papel no contexto da existência. E isto nada tem a
ver com os cuidados a serem tomados em vista da presença de
alguma doença, evidentemente.
Doenças psiquiátricas existem, assim como doenças cardíacas,
oncológicas, ortopédicas, dentre muitas outras, mas não somos a
doença, somos muito, mas muito mais do que isto. Somos pessoas,
seres humanos, personalidades insubstituíveis. E acima de tudo,
somos pessoas amadas por Deus e por nossas famílias pelo que
somos em nosso coração e pela boa expressão dos nossos atos. E
este amor deve ser incondicional, caso contrário, como
chamaríamos a isto de amor?
O desenvolvimento do amor próprio é ponto de partida a fim de
que possamos erguer as nossas cabeças e, aí sim, vestirmos uma
bela camiseta onde esteja escrito: “Eu amo e cuido de mim
mesmo!”
Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra e Nutrólogo