Dr Eduardo Adnet


Médico Psiquiatra e Nutrólogo

Os Rótulos dos Diagnósticos em Pacientes da Psiquiatria


Com uma frequência considerável, alguns pacientes chegam em nosso consultório afirmando, algumas vezes com bastante ênfase, que são portadores deste ou daquele transtorno psiquiátrico. E dentre estes transtornos, os mais frequentemente anunciados são o Transtorno Bipolar, a Síndrome do Pânico, o Transtorno do Dédicit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a Depressão (ou Depressões).

Como já comentei em outros artigos, há uma vulgarização de determinados diagnósticos da Psiquiatria e uma miríade de publicações de má qualidade onde muitos leitores “acham” que se encaixam muito bem neste ou naquele transtorno e alguns chegam até mesmo a enveredar pelo caminho do autodiagnóstico. Pelo menos em nossa experiência profissional, esses autodiagnósticos estão errados na grande maioria das vezes, lembrando aqui que autodiagnóstico não é uma prática recomendável.

Não há nada de equivocado em se buscar obter informações sobre um determinado transtorno psiquiátrico, ainda mais quando a pessoa suspeita que esteja sendo por ele acometida (ou algum familiar ou conhecido), todavia, há um delicadíssimo caminho a ser percorrido antes que se possa chegar ao diagnóstico de certeza e ao tratamento adequado, o que é da competência do médico psiquiatra no que tange ao território de atuação da Psiquiatria como especialidade médica.

Considero ainda mais preocupante o fato de algumas pessoas aceitarem tão rapidamente algumas rotulações que lhes são dadas, como se o indivíduo fosse a doença e nada mais importasse na hora de se olhar no espelho e considerar que a pessoa é muito mais do que um pé torto, uma cicatriz na face ou uma visível lordose.

Penso que ninguém deva sair de um consultório de psiquiatria como se estivesse com um boné com a inscrição “Eu sou Bipolar”, “Eu tenho TOC”, ou como se estivesse vestindo uma camisa com o estampado “Sofro da Síndrome do Pânico”.

Muitas são as boas qualidades que podemos possuir: Cordialidade, honestidade, amor ao próximo, boa condução dos relacionamentos familiares, bom desempenho profissional ou acadêmico, criatividade, auxílio a outras pessoas, enfim, os critérios próprios de auto-avaliação convêm sejam positivos e realistas, especialmente quando se busca o aprimoramento da auto-estima.

Se alguém é portador de alguma doença psiquiátrica, seja um transtorno leve ou mais severo, não é isto o que define o nosso caráter, ainda mais se levarmos em conta que há diversos transtornos em Psiquiatria que possuem importantes componentes de hereditariedade, e não pode haver culpa por algo pelo qual jamais optamos ou escolhemos ter. Várias doenças psiquiátricas são herdadas, e como poderia alguém ser culpado por isso? Teríamos que percorrer a História da humanidade e chegar até Adão e Eva a fim de culpá-los por todas as doenças que são herdadas pelas vias da hereditariedade.

A rotulação de pacientes em razão de sua doença, seja na Psiquiatria ou em outras especialidades médicas, não melhorará em nada a sua condição, pelo contrário, poderá trazer prejuízos até mesmo sérios à sua auto-estima e visão própria de sua inserção e papel no contexto da existência. E isto nada tem a ver com os cuidados a serem tomados em vista da presença de alguma doença, evidentemente.

Doenças psiquiátricas existem, assim como doenças cardíacas, oncológicas, ortopédicas, dentre muitas outras, mas não somos a doença, somos muito, mas muito mais do que isto. Somos pessoas, seres humanos, personalidades insubstituíveis. E acima de tudo, somos pessoas amadas por Deus e por nossas famílias pelo que somos em nosso coração e pela boa expressão dos nossos atos. E este amor deve ser incondicional, caso contrário, como chamaríamos a isto de amor?

O desenvolvimento do amor próprio é ponto de partida a fim de que possamos erguer as nossas cabeças e, aí sim, vestirmos uma bela camiseta onde esteja escrito: “Eu amo e cuido de mim mesmo!”

 

Dr Eduardo Adnet

Médico Psiquiatra e Nutrólogo